Diferenças entre realismo mágico e fantasia

(Foto de Dollar Gill na Unsplash)

Fantasia é  gênero com uma grande variação temática. As histórias popularmente enquadradas como fantásticas podem se passar desde a época medieval, com seres místicos como dragões e reinos, até no mundo atual, juntando com a tecnologia e fazendo parte do cotidiano, ou como sendo um segredo pela maior parte da sociedade.

Porém, há outro gênero bem similar, o realismo mágico. É comum confundir os dois, principalmente por compartilharem a existência do mágico e do impossível, mas são gêneros que apresentam uma abordagem diferente.

Confira abaixo para entender melhor cada um:

Definição de fantasia

Considera como fantasia toda a obra de ficção a qual apresenta em seu enredo características fora da realidade, sejam elementos considerados sobrenaturais ou mágicos. Pode vir acompanhado de outro gênero, como o romance ou a ficção científica. 

A fantasia está presente em vários formatos, desde livros à filmes e jogos, por exemplo. E, apesar de ser um gênero adaptável e encaixar conforme a mídia, ela pode retirar de lendas e mitos antigos para construir o universo de uma história. 

Normalmente, toda a obra que entra no gênero fantasia tem uma característica importante. A história sempre gira ao entorno desses elementos fora do comum. Um exemplo, clássico até, é a saga do Senhor dos Anéis, que o personagem principal, Frodo, recebe a tarefa de destruir um anel poderoso, capaz de dominar os outros anéis dados pelos deuses.

Cena do filme do Senhor dos Anéis

(Foto do filme do Senhor dos Anéis, retirado do site Film Grab)

Um outro título bem conhecido desse gênero é a saga de livros do Percy Jackson. Mesmo que se passe nos dias atuais, diferente do Senhor dos Anéis, é inegável que a existência de seres da mitologia grega no universo não o faça se enquadrar como fantasia. E, mais ainda, a tarefa que Percy recebe de descobrir quem roubou um artefato importante do Olimpo fortalece ainda mais a conexão entre o universo e os elementos fantásticos.

Nos casos tanto de Frodo quanto de Percy, toda as trilha deles pelos livros é determinada pelo universo ao seu redor e, sem a existência desses seres e objetos irreais, não seria possível contá-las.

Mas não se engane: Nem todos os livros de fantasia são complexos, com grandes sistemas mágicos desenvolvidos, países e deuses. A proposta pode ser bem simples, com apenas uma regra. O que caracteriza o livro Vilão ( você pode conferir a resenha que eu fiz) é apenas a existência dos ExtraÓrdinarios, pessoas que passaram por uma experiência de quase morte e adquiriram poderes. Pelo menos nesse volume não há mais nada que se é apresentado com algo sobrenatural. E toda a história ronda ao redor desse grupo, mesmo que movido pelo desejo de vingança de Victor, um dos protagonistas.

Todas as tramas de livros de fantasia se preocupam em trabalhar o universo novo criado, mesmo que com graus diferente. É nesse ponto que se difere do outro gênero: O realismo mágico.

Diferença entre fantasia e realismo mágico:

Diferente da fantasia, o realismo mágico não tem a intenção de explicar ou se relacionar profundamente a esses elementos pela história. E, por isso, a verossimilhança, ou seja, o quanto pode ser visto realmente acontecendo, não é levado em conta. Pode ser aceito como algo normal pelas personagens, mas o leitor entende como algo impossível. 

Capa do livro Cem Anos de Solidão, do Gabriel García Marques, edição publicada no Brasil pela Editora Record.

Esse irreal é incluso justamente por fatos e acontecimentos do cotidiano. O livro “Cem anos de Solidão”, de Gabriel García Marques, é caracterizado pela vivência com fantasmas e memórias, com chuvas com durações irreais. Nesse mundo, chamado de Macondo, tudo é considerado possível. Mas, é com essa normalização do incomum em que esse autor destaca mais ainda as críticas sociais por trás das histórias de cada personagem. 

(Imagem da Editora Record)

Outra história que trabalha com essa ideia é Terra Sonâmbula, de Mia Couto. Nesse livro, acompanhamos dois focos narrativos, o de Tuahir e de Muidinga, e o caderno encontrado por eles, que é escrito por Kindzu. Durante toda a apresentação dos acontecimentos, sempre há um mito ou uma crença junto, narrados como se estivessem acontecendo naquele momento, e fizessem parte da realidade, em principal o que é contado por Kindzu. Mas, apesar disso, há um grande enfoque nos efeitos da guerra em Moçambique, e seus efeitos sobre toda a sociedade da região.

Então, no realismo mágico, não se há a preocupação em explicar o mundo ao redor. As personagens convivem normalmente no mundo como ele é, e não são necessariamente levadas a história pela fantasia. Não é o foco narrar esses elementos incomuns, mas sim trazer questões e críticas com relação algum tema. E isso pode ser feito através de metáforas e alegorias construídas justamente a partir desses elementos fantásticos.

Conclusão:

Com base na análise, é possível perceber que a diferença entre a fantasia e o realismo mágico está na forma em que a narrativa dá importância a magia ao sobrenatural. Se a trajetória das personagens e dos acontecimentos se basear principalmente nas características irreais apresentadas pelo universo, se trata de uma fantasia. Se a história tiver um foco social, crítico com relação a um problema comum na nossa realidade, é bem possível que não se trate de uma narrativa fantástica, mas sim de um realismo mágico.

Referências de pesquisa:

Esses são os textos que serviram como base para esse post, para aprofundar mais no tema:

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